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Usar o Português na Aula de Inglês: sim ou não?

O que você pensa sobre o uso da língua portuguesa nas aulas de inglês? Você é daqueles ou daquelas que o simples fato de soltar uma palavra em português durante a aula é algo abominável? Neste artigo apresento os argumentos a favor do uso prudente do uso da língua materna no ensino de inglês dentro de nosso país, onde nossos alunos falam português.

Para começar, você sabia que esse mito de que a língua materna (LM) mais atrapalha do que ajuda vem das teorias e princípios dos métodos oriundos do Direct Method (DM). “Jamais traduza: demonstre”, dizia uma das regras desse método.

Nos EUA, na década de 1950, o Audiolingual Method (ALM) tornou-se o método mais usado. Foi também o método que logo ganhou o mundo. Foi portanto esse método que fez com que a regra do não uso da LM dos aprendizes em aulas de línguas estrangeiras ganhasse força. Uma das orientações do ALM afirma claramente que “o uso da língua materna do aprendiz é proibido” (Richards e Rogers, 2001:156).

Essas propostas do DM e ALM começaram a ser questionadas lá pelo final da década de 1960. Foi com o advento das ideias da Communicative Approach (CA), nas décadas de 1970 e 1980, que a proibição do uso da LM dos alunos começou a ser debatida com mais intensidade.

Finocchiaro e Brumfit, dois grandes teóricos da CA, escreveram que uma das diferenças fundamentais entre o ALM e a CA estava no uso da LM dos aprendizes na aula de língua estrangeira. Na percepção deles “o uso prudente da língua materna é aceito quando necessário” (Finochiaro e Brumfit, 1983:92).

H. Douglas Brown, outro grande nome na área de metodologia, também defende a ideia de que a LM é um fator que facilita o aprendizado da segunda língua e não algo que interfere ou mesmo atrapalha (Brown, 2000:68). Jim Scrivener, mais um renomado autor da área, nos diz que “a língua materna dos aprendizes pode ser um recurso muito útil na sala de aula” (Scrivener, 2005:100). Scrivener acrescenta ainda que “há muitas maneiras úteis de usar a língua materna dos alunos” (2005:308). Scrivener chega até mesmo ao ponto de aconselhar os professores de inglês a fazer o seguinte, “se você perceber que a melhor e mais eficiente maneira de explicar algo é usando a LM dos alunos, então faça isso” (2005:309).

O também autor Jeremy Harmer, em seu The Practice of English Language Teaching, declara que “há muitas ocasiões nas quais o uso da LM dos aprendizes na sala de aula tem vantagens óbvias”. De acordo com ele, “ganha-se muito ao fazer comparações entre a LM e a língua alvo. Os estudantes farão essas comparações de qualquer forma; logo, nós, professores, podemos ajudá-los a fazer de modo mais eficiente” (2007:133).

Luke Prodomou, outro especialista na área, sugere que temos de “romper com essa tradição de percepções negativas da língua materna na sala de aula […] em termos educacionais, é uma contradição absurda ensinar uma língua estrangeira, seja qual for, sem fazer referência ou uso criativo da língua materna dos alunos” (Deller e Rinvolucri, 2002:05).

Dito tudo isso, é necessário esclarecer a diferença entre o uso prudente da língua portuguesa na aula de inglês e o falar português o tempo todo na aula de inglês. Nenhum teórico da área defenderá a ideia estapafúrdia e sem fundamento de que o professor deve falar português o tempo todo na sala de aula. O que se defende é a ideia do uso prudente.

Para exemplificar isso, imagine que ao ser questionado por um aluno sobre o significado da expressão “so to speak”, você responda da seguinte forma “so to speak in Portuguese is por assim dizer. Let me give you some examples!”. Você então se dirige ao quadro e escreve:

  • That’s a common problem, so to speak.
  • He’s a little bit crazy, so to speak.
  • This is not, so to speak, the right thing to do.

Ao escrever cada exemplo no quadro, você poderá traduzir a sentença e ressaltar a expressão “por assim dizer”. Isso faz com que os alunos criem uma conexão com o conhecimento linguístico que eles já tem (a LM), internalizem e passem a utilizar a expressão da língua alvo (inglês) quando tiverem a chance de usá-la.

Esse uso prudente da língua portuguesa também pode ser feito em explicações gramaticais. Nesse caso o professor pode comparar as estruturas das duas línguas e pedir aos alunos para observarem as diferenças. Em uma aula na qual o professor tenha de ensinar o uso do Present Perfect em “I’ve always wanted to…”, pode-se dizer aos alunos que em inglês é assim que dizemos “eu sempre quis…”.

O professor escreve “I’ve always wanted to…” no quadro e diz aos alunos a equivalência em português. O professor então começa a ampliar os exemplos: “I’ve always wanted to travel around the world”, “I’ve always wanted to do that”, “I’ve always wanted to go there”, “I’ve always wanted to meet her”, etc. Conforme o nível de conhecimento da turma o professor pode também pedir para que os alunos deem exemplos.

Dessa forma, usar a língua portuguesa de modo prudente em sala de aula não afetará negativamente o aprendizado dos alunos. Usar a língua portuguesa de modo prudente não é o mesmo que falar português em sala de aula o tempo todo.

Romper certos paradigmas não é fácil. Principalmente quando eles estão fortemente arraigados em nossa cultura de ensino de línguas. Para complicar as escolas aproveitam para usar em suas propagandas frases como “nossas aulas são todas em inglês”. Os alunos veem isso como um grande diferencial e como algo extremamente necessário. Por conta desse marketing e falta de conhecimento das pessoas em geral, o ciclo continua.

Mas enfim qual a sua opinião sobre esse assunto?

REFERÊNCIAS:

Brown, H. D. (2007). Teaching by Principles: an interactive approach to language pedagogy. New York: Pearson Longman.
Deller, S. and Rinvolucri, M. (2002). Using the Mother Tongue: making the most of the learner’s language. Surrey: Delta Publishing.
Finnochiaro, M. and Brumfit, C. (1983). The Functional-Notional Approach: from theory to practice. New York: Oxford University Press.
Harmer, J. (2007). The Practice of English Language Teaching. Essex: Pearson Longman.
Scrivener, J. (2005). Learning Teaching: the essential guide to English language teaching. Oxford: MacMillan.
Richard J. and Rodgers, T. (2001). Approaches and Methods in Language Teaching. New York: Cambridge University Press.

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Denilso de Lima

Denilso de Lima is an experienced writer and teacher educator. He is the author of “Inglês na Ponta da Língua”, “Gramática de Uso da Língua Inglesa”, and “Combinando Palavras em Inglês”. His website – inglesnapontadalingua.com.br – is a number-one website on English language tips in Brazil. Denilso is fascinated by formulaic language, corpus linguistics and spoken fluency development. Like his Facebook fanpage on facebook.com/inglesnapontadalingua

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