Metalinguagem: ensinar ou não ensinar? Eis a questão!
O Dicionário Houaiss da Língua Portugesa define metalinguagem como “linguagem (natural ou formalizada) que serve para descrever ou falar sobre uma outra linguagem, natural ou artificial”. De modo simples, trata-se da linguagem que usamos para falar sobre a língua(gem). Em inglês, metalinguagem é chamada de metalanguage e, do ponto de vista linguístico, é recomendável referir-se a ela com a palavra “terminologia” (terminology). Abaixo, falarei resumidamente sobre o assunto e sobre o fato de ensinar isso aos estudantes de inglês ou não.
Para que você compreenda melhor o que é a metalinguagem, imagine a seguinte situação. Ao dar uma aula sobre o Present Perfect Tense você tem de descrever a formação e o uso desse tempo verbal. Para realizar essa tarefa você certamente usará frases como: “o verbo have é o verbo auxiliar“, “o verbo have deve ser conjugado no present simple tense – have e has” , “o verbo have deve então ser seguido pelo verbo principal no past participle“, “na negativa devemos usar ‘have not’, ‘has not’ ou suas formas contratas – ‘haven’t’ ou ‘hasn’t’“, “usamos o Present Perfect Tense quando…“. Enfim, fazemos uso de termos técnicos (terminologia linguística) para descrever a formação e o uso do tempo verbal. Assim, essas palavras e sentenças usadas para falar sobre o Present Perfect Tense (e a língua em geral) é o que chamamos de metalanguage (ou terminology).
Apesar de simples, o exemplo acima mostra o quanto é fundamental que um professor de inglês tenha um bom nível de conhecimento técnico sobre a língua para poder falar sobre ela. O professor – profissional do ensino de língua inglesa – deve conhecer bem as partes (minúcias) de seu objeto de estudo e ensino. Afinal, isso faz parte do desenvolvimento profissional de todos nós. Todavia, será que temos de ensinar essa metalinguagem ao alunos? Será que há a necessidade de passarmos a língua dessa maneira para os aprendizes?
Atualmente, há uma discussão séria sobre a importância e a necessidade do conhecimento da metalinguagem para os estudantes de inglês. A discussão se desdobra em torno do fato de nenhum estudo ter ainda mostrado de forma convincente que o conhecimento da metalinguagem apresenta bons resultados no aprendizado de uma segunda língua (Thornbury, An A-Z of ELT, page 130). Posso até afirmar que saber a metalinguagem não é sinal de que alguém seja capaz de usar a língua com naturalidade. Como diria Michael Lewis,
Foi, e continua sendo, um grande erro do aprendizado de língua acreditar que a gramática é a base da língua e que o domínio do sistema gramatical é a chave para uma comunicação eficiente
O renomado linguista brasileiro, Luiz Carlos Travaglia, no livro Gramática – Ensino Plural, nos diz que “Para a grande maioria dos falantes nativos de uma língua, o que importa é ser comunicativamente competente em sua língua. Ter conhecimento sobre a língua e/ou ser analista da mesma importa a pouca gente (linguistas, gramáticos, teóricos da língua em geral, professores de língua materna e estrangeira e em menor grau a alguns profissionais que se valem diretamente da linguagem, tais como jornalistas, publicitários, revisores, etc).” Travaglia crítica aí o ensino da metalinguagem em língua materna. Para ele, fazer análise sintática de sentenças e saber classificar as palavras é um conhecimento que pouco importa para quem deseja se comunicar de modo competente em sua própria língua.
Claro que o linguista brasileiro está se referindo ao ensino de língua portuguesa. Contudo, podemos pegar carona em seu raciocínio e trazê-lo para o ensino de inglês. Ou seja, por que os estudantes de língua inglesa têm de aprender termos técnicos usados para descrever a língua? O objetivo deles é apenas o de ser comunicativamente competente na língua e não o de se tornarem analistas da língua.
Uma pergunta feita pelo também linguista Luiz Percival Leme Britto, no livro A Sombra do Caos: ensino de língua x tradição gramatical, merece destaque, “por que a gramática normativa tem tanta força, a ponto de se manter como padrão de ensino, apesar de a quase totalidade dos trabalhos em linguística e linguística aplicada que discutem este tema apontar em sentido contrário?”.
Para encerrar cito Jane Willis, autora de vários livros de ensino de língua inglesa e uma das maiores autoridades em TBL (task-based learning), “a explicação das regras só ajuda se os alunos possuem bastante experiência na língua alvo para assim compreenderem a explicação, que em tal caso pode não haver a menor necessidade” (A Framework for task-based learning, 1996:6).
Ensinar a gramática de modo natural é um desafio para muitos professores. Muitas vezes os próprios estudantes parecem exigir essas explicações técnicas sobre o porquê disso e daquilo. Em muitas escolas pelo Brasil, há ainda a tendência de ensinar inglês como se fazia em décadas passadas. Muitos dizem saber que a metalinguagem mais atrapalha que ajuda, mas dizem não saber como ensinar gramática sem ela. Aliás, será que há alguma maneira de ensinar gramática sem gramática?
A resposta para essa pergunta ficará para uma próxima oportunidade. Por ora, quero apenas saber qual sua opinião sobre o ensino da metalinguagem (terminology)? Quais suas observações, preocupações, dúvidas e possíveis temores em relação ao não ensino da metalinguagem? Você acha que a metalinguagem deve ficar fora da sala de aula? Você acha que ela é necessária aos aprendizes de inglês? Deixe seus comentários e assim vou conhecendo novas opiniões. Até a próxima!